As obras de Victor Brecheret (1894-1955) incluídas na mostra Brasília Museu Aberto resultam de pesquisas sobre a vida, a cultura e os artefatos dos nativos do Brasil Central — Carajás, Caiapós, Kalapalos e, especialmente, os Paranoás, que deram seu nome ao lago da nova capital. Seu encanto pelos povos indígenas remonta ao final dos anos 1930, quando criou o famoso Monumento às Bandeiras, em São Paulo, no Parque do Ibirapuera.

Brecheret sintetiza na argila formas essenciais e orgânicas. Despoja-as de elementos narrativos e descritivos das figuras, deixando incisões que esquematizam um rosto ou animais, por exemplo.

O escultor acompanhou, em sua época, as primeiras e deslumbrantes fotos em cores (publicadas nas revistas Manchete e Cruzeiro) do rico repertório plástico e cromático dos artefatos indígenas. Essas visões repercutiram no processo de sua criação, materializando formas arredondadas como as dos seixos rolados pelas águas ou das bonecas Carajás.

As obras que dialogam com as da Coleção Brasília e com a fundação da capital referem-se aos índios Paranoá, uma homenagem aos primeiros brasilienses:

  • A Filha da Terra Roxa (1947-1948), que sugere um ídolo primitivo em volume oblongo com incisões nas formas de animais e/ou motivos decorativos da cestaria indígena.

  • O Índio e a Suaçuapara (1951, estudo), sua obra maior, que recebeu o Grande Prêmio de Escultura Nacional da I Bienal de São Paulo. O artista alcançou, com esta obra, um clímax de pesquisa e síntese de inspiração indígena.

  • Piroga (1954), que estiliza um índio no ato de pescar e a mãe com o filho na outra ponta da barca. É uma referência à cena cotidiana dos povos nativos, como os Paranoá, que viviam junto ao rio de mesmo nome.

As esculturas de Brecheret — remetendo seu universo plástico e estético à cultura indígena, do povo original de Brasília — dão destaque à memória das raízes primeiras da nova cidade, evocando o Brasil central profundo e primevo.